Nas últimas duas semanas a minha professora de Identity, Nacionalism and Conflict convidou os embaixadores de Israel e da Palestina para nos explicarem o que se passa por lá e em que pé está o conflito começado a meio do do século XX.
Como embaixadores, e também diplomatas, contávamos com opiniões e discursos politicamente correctos.
Israel não falhou esse ponto. Já a Palestina optou pela sinceridade.
Na semana passada, o embaixador Emmanuel Nahshon mostrou que quando o assunto roçava a identidade nacional dos palestinianos, talvez houvesse uma hierarquia relativa. Discretamente, deu a entender que, apesar de pertencer ao povo que, de certa forma, invadiu e ocupou um território, tinham e têm mais direito a lá estar. Rodeou bastantes perguntas, dando uma opinião geral e, como já referi, bastante política.
Mas tocou num ponto interessante: o muro ou rede que cerca Israel. "I've seen more dead bodies than a person should see", começou. Contou-nos como, antes da construção da barreira, muitos palestinianos invadiam o país, aramdilhados, entrando em restaurantes, autocarros e comboios e matando centenas de pessoas. "How can you just go to work when you know, somewhere in a bus or a train, there're your kids right next to a suicide-bomber?". Consta que antes da cerca (que fechada 98% do território israelita) e do muro (os restantes 2%) morreram mais de mil pessoas só por ataques suicidas. Desde a sua construção, não há relatos de nenhum ataque bombista vindo de fora.
Já a Palestina foi representada pela embaixadora Khouloud Daibes. O discurso foi simplesmente fascinante. A Dr. Daibes afirmou desde o início estar ali como palestiniana e não como política. Não ia tentar converter-nos, ia apenas contar a sua história. Tendo a filha, de 18 anos e aluna de Ciência Política na FU Berlin presente, acabou por pedir à filha que contasse como é a vida de uma jovem palestiniana que mora em Jerusalém e anda na escola em Bethlehem. Dana explicou-nos que, por viver em Jerusalém, os seus amigos nunca puderam visitar a sua casa, pois a maioria dos palestinianos não visitou nem pode visitar a cidade sagrada. Que para vir à Europa, tinha de atravessar a fronteira para a Jordânia ilegalmente ou pedir um visa israelita, o que a impediria de visitar a maioria dos países árabes. Mas o mais impressionante foi ela explicar que chegava a ficar retida entre cidades palestininas por mais de três hora quando voltava para da escola. E porquê? Porque os soldados israelitas dos checkpoints estavam "in a bad mood". O normal era sair à rua sempre com o passaporte e rezar para que não fosse retida em qualquer rua. Que não a "confiscassem". Ver soldados mais novos que ela com armas nas mãos e saber que só a sua existência podia dar asas a que disparassem.
Vir para a Alemanha "foi libertador". "I felt freedom and security for the first time".
Fica no ar: solução com um ou dois Estados? Poderá a Dana sentir-se na Palestina como na Alemanha? Estará correcta esta perseguição do povo judeu ao povo palestiniano, depois do que passaram às mãos da Alemanha Nazi? E a comunidade internacional? Não deveria já ter tomado uma posição séria? Poderá o "muro" de Israel cair brevemente?
Passados 20 anos sobre o Acordo de Oslo a situação mantém e perdem-se vidas todos os dias.
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